E daí que todo mundo fotografa? Alguém ficaria triste se todo mundo fosse alfabetizado? Soubesse ler e escrever? Qual é o problema? Reserva de mercado? Esquece-se que quan- to mais as pessoas fotografarem maior será sua capaci- dade de alfabetização visual, de saber compreender a dificuldade em fazer uma imagem. Nem todo mundo que sabe ler e escrever é Machado de Assis. O que de- veriam dizer os cineastas então, quando agora qualquer fotógrafo acha que pode fazer um vídeo? Um filme? E muitos de péssima qualidade sem ao menos linguagem cinematográfica? Sim, fotografa-se muito hoje, mas nun- ca se viu tão pouco.
O que estamos vendo? Qual o papel da fotografia?
Construções artísticas (no sentido mais amplo desta palavra) ou atendimento
a um mercado das galerias. Como ler e interpretar um imagem hoje? Ainda nos
referenciando ao livro do Luciano Trigo, lemos logo nas primeiras páginas: “o
sonho que qualquer jovem artista é ser absorvido pelo sistema, ter conotação
internacional, expor nas galerias e museus da moda, aparecer na mídia”. E é
isso que vemos hoje, curado- res e professores referenciando obras que eles
mes- mos cultivam, criadores de fogos de artifício. Sempre as mesmas pessoas
nos mesmos lugares, um ou dois no máximo curadores da moda que nos obrigam a
ver sempre as mesmas obras das mesmas pessoas. Por outro lado é bem verdade
que nunca se falou tanto sobre fotografia. Diz Charlotte Cotton: estamos
vivendo um momento excepcional para a fotografia, pois hoje o mundo da arte a
acolhe como nunca o fez e os fotógrafos consideram as galerias e os livros de
arte o espaço natural para expor seu trabalho”. Repetimos a pergunta, o que
estamos vendo? “A per- cepção não se separa da compreensão. Todo ato de ver
implica em saber o que se vê”, ensina Lorenzo Vilches. Portanto embora uma
imagem possa reme- ter ao visível, tomar alguns traços emprestados do visual,
sempre depende da produção de um sujei- to. Lê-la não é tão natural como
parece: “o fato de o homem ter produzido imagens no mundo inteiro, desde a
pré-história até nossos dias, faz com que acreditemos sermos capazes de reconhecer uma imagem
figurativa em qualquer contexto histórico e cultural.
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