terça-feira, 15 de abril de 2014

O domínio da luz (Por Marcelo Santos)


Sempre vejo, ouço ou leio alguém se referindo à expertise fotográfica como saber dominar a luz. Ou, pelos mais etimológicamente didáticos: escrever com ela. Já li um verdadeiro exército de forumeiros distinguindo quem é ou quem não é digno do ofício pela sua habilidade de lidar com este ou com aquele modo operacional de suas ferramentas de trabalho. Automático? Programa? Prioridade? Manual? Braçal? Abdominal? Cordial? Modo Cunhado?
Ora, fosse esse todo o problema do fotógrafo… Dominar a luz é fácil! É física, matemática, ótica e geometria. Basta estudar, basta dedicar seu tempo, suas manhãs (aquelas, nas quais a cama está ótima), praticar, experimentar, errar, errar de novo, basta ler, devorar manuais, basta conhecer os instrumentos e suas particularidades, basta saber o porque de cada qual e o que fazer com cada um. Dominar a luz é fácil, ela é dócil, gentil e previsível. Basta saber distinguir a boa da ruim, ler os números, fazer as contas e pimpa! Qualquer sapo sem asas acerta a luz. Ora, se fossem estas as tais dificuldades…
 
Difícil é saber o que fazer com a luz dominada. Difícil é dominar uma forma e lhe atribuir outra. Dominar os planos, dominar os arranjos e lhes dar sentido. Difícil é dominar a linguagem, o instante, a narração e a história, ou estória, que se conta. Difícil é dominar as ideias aos borbulhões ou a falta delas. Dominar os próprios projetos e sua desorganização. Dominar as prioridades e seu foco. Não, não o foco ocular, mas o metafórico, entenda-se! Dominar as finanças, os prazos, as pautas, os briefings, a clientela. Dominar o banco e suas taxas e cobranças. Difícil é dominar o relógio, o clima e a sorte. Difícil é dominar os ânimos, as ansiedades, as decepções. Difícil é dominar o ego. Difícil é dominar os medos. Difícil é não ser dominado por quem não tem luz. Nem asas.

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